24.4.18

TAIS-TOI

Tais-toi, poète,
tu sais, la guerre
est avare de tes mots.
Garde-les,
garde-les bien,
abimés dans ton coeur.
Personne ne saura
pourquoi tu deviendras
un poète muet.
On dira
que ta vie est gachée.
Calme-toi, poète,
tu sais, la guerre
s’achèvera sans te prendre tes mots
si bien gardés
au fond de tes sanglots
au bout de ton silence.
Écoute-moi, poète,
attend!
Le temps arrivera
pour tes mots,
pour ta voix
pour ton chant libéré,
encore plus haut,
en demandant le tout,
l’immensité.


Licínia Quitério

21.4.18

O BINÓMIO


Quem sabe um dia a vida tenha sido
a duas cores
duas

das que se guardam no arco-íris

A luz do dia verde
verde
da mãe das flores e das sementes

A luz da noite azul
azul
do céu da tempestade e da bonança

Se foi assim
com as duas cores 

os homens refizeram o mundo

Deitaram-se à tarefa de
escolher
separar
multiplicar
combinar
recompor
inventar

desesperar
descansar
desistir

Foi num abrir e fechar de olhos
que tudo se desdobrou
do vermelho ao violeta
em mil e um degraus
que vemos e não vemos
pois reclusos ficámos
entre o sim e o não
o negrume e a alvura
a candura e o nojo
o excesso e o defeito

A tantas cores o mundo
e homens que vêem branco
e homens que vêem negro

num binómio incolor de suicidas

Licínia Quitério

8.4.18

LULA



Vem dos países da terra e do metal.
Em seu redor os muitos filhos
roubados à fome e à nudez
gritam o seu nome
de consoantes doces
vogais quase fechadas.
É um Homem vestido de luta
a contar a história dos seus passos
a história dos seus sonhos
iguais aos sonhos de todos os meninos
perdido o medo do papão.
É um Homem com uma ideia.
É um Homem com um sonho.
Um Homem livre
encarcerado e livre.
É uma ideia em movimento.
É um sonho inacabado.
É um Homem.


Licínia Quitério

imagem da net

2.4.18

OS MUROS VELHOS



Os muros velhos dão guarida
a ousadias vegetais
formosos atavios
de rendas e recortes
a lembrarem vestidos
de pequenas bonecas
nos pequenos colos
das pequenas meninas

com grandes olhos
de encantar

Nos muros velhos acoitam-se
pequenos animais
contorcionistas
malabaristas
da cal e do granito
velozes frios fugindo
à astúcia predadora 
dos famintos

É bom atentar nos velhos muros
e nos seus  habitantes
vegetais e animais
a cumprirem a vida e os seus ciclos
a respeitarem o Sol e a sua lei
a esperarem a chuva
a suportarem a seca

Estes muros velhos
pacientes
resistentes
guardadores de seus bichos
suas ervas
sabem que vão desmoronar
no dia em que chegar
o cavalo negro à rédea solta
nas ancas fumegante
a marca do ferro do mandante

Era uma vez um muro velho
e os seus vegetais
e os seus animais

Começa assim a nova história
Do cavalo negro nenhuma história se escreveu
 
Licínia Quitério

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