11.11.16

A IGNORÂNCIA



Nesse tempo eu pouco sabia 

De filósofos ou de colheitas tardias
E menos ainda de contas correntes
Ou de novas galáxias
Redondo era o mundo e
Eu girava girava
Dançava dançava muito
Em redor de mim
Em redor da saia que rodava
E chorava porque
O coelhinho branco morrera 
Ou o rapaz afinal tinha outra namorada
Queria que o meu cabelo embranquecesse 
E eu fingisse de velha
De uma velhice mais bonita
Que a minha mocidade
Nada sabia da morte das abelhas
E menos ainda da vida 
Depois de muitas mortes
Conhecia vagamente os nomes de cidades
E sonhava com elas
Porque havia de as visitar
No princípio de todas as primaveras
Eu era tão ignorante 
Nesse tempo 
Agora sei os nomes das árvores da minha rua
O tamanho da estrela maior
O tempo de vida do amor
E muito mais
Confesso que pintei o cabelo 
Da cor da mocidade
Que era tão bonita e nem isso eu sabia

Licínia Quitério

3 comentários:

LuísM Castanheira disse...

confesso que quando comecei a ler o poema, sem ainda estar visível o seu termo, pensei ser um poema de Cecília Meireles,p ara mim desconhecido, postado por alguém.
agora sei.
e foi graças à Graça Pires que o seu mundo poético se me abriu.
feliz este achamento.
e,assim, aqui chegado, só me resta
deixar este belo poema entranhar-se,
como deim fizesse parte, mesmo antes de chegar...
um poema não se comenta...vive-se.

Jaime Portela disse...

Mas a idade da ignorância era boa.
Embora cada idade tenha as suas ignorâncias características...
Excelente poema, gostei imenso.
Tem um bom fim de semana, querida amiga Licínia.
Beijo.

solfirmino disse...

Lindo demais. Graças a Graça Pires, cá estou.

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