17.6.15

AO ANOITECER


Ao anoitecer, 
celebro as emoções do dia, 
recolho os animais, 
recolho-me,
limpo-me das poeiras, 

emudeço.
Uma sirene rompe o silêncio da sala
e as flores na jarra estremecem.
Os olhares dos mortos nos retratos, 

iguais aos dos vivos.
Procuro o sono e ele chega, 

macio,
de ondulação igual à do poema.
Cavalgo a prancha e vou

em direcção ao túnel. 
Acima de mim, a água, 
e a luz ao fundo, branca. 
Talvez eu chegue,
talvez, 

ao outro lado do espelho.
Que ninguém me desperte na viagem.


Licínia Quitério 

3 comentários:

bettips disse...

Os poemas correm como pérolas na água, translúcidos. Em monte, em fio, em ponto-de-pé-de-flor.
Que nomear? que comentar?
Apenas GOSTAR deste prazer de te ir vendo-lendo-rindo; e chorando.
Que privilégio o meu neste cruzamento, já não vago mas com forma de gente!
Bjinho

Mar Arável disse...

No outro lado do cais

Bjs

Manuel Veiga disse...

em serena claridade de ti, Poeta.

beijo

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