6.5.14

CONTA-ME



Conta-me a história daqueles anos em que as tuas pernas cresciam mais do que o amor que era então uma cor difusa, um brilho suave, por vezes um clarão que logo se apagava dentro do teu peito, esse peito enorme em frente ao mundo, sem temor, sem rancor, ainda. Devagar, que a pressa de crescer esmoreceu e o melhor é estar sentado à beira vida, reclamando a memória, refazendo os caminhos nunca feitos, as paixões ou os seus lampejos. Diz-me das caixas onde guardaste as conchas, os recados, as canções proibidas, as certezas de que as flores conservariam a cor e o perfume. Sei que já não podes usar as palavras antigas para nomear o que passou. Ninguém te entenderia, apenas eu que ensurdeci e aprendi a ler nos olhos dos que passam, emudecidos, ausentes, num mundo que perdeu as dimensões, quem sabe virtual, quem sabe virtuoso. Conta-me, que eu já esqueci, que tamanho tinham as tuas pernas e as minhas no tempo de começarmos o amor. 

Licínia Quitério 

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