19.3.14

PAI



Era o único homem lá de casa e eu aprendi a dizer Pai

Quando ele chegava e me pegava ao colo
Ou me ensinava a caminhar com os meus pés
Nos dele, para trás, para diante, as minhas mãos nas dele.
Continuei a dizer Pai, a pensar Pai,
Mesmo quando me zangava com ele
Ou fingia zangar-me para me tornar crescida.
Com ele descobri as letras no caixote de madeira
E havia um K e ainda sei qual era a palavra.
Levei muito tempo a livrar-me dele
Que queria saber tudo de mim e eu não
Queria que ninguém soubesse de mim.
Só me livrei dele quando começou a
Contar-me segredos para eu guardar.
Foi sempre o único homem lá de casa
Até que eu mudei de casa e o deixei
Para poder visitá-lo sempre sempre,
Até ao dia em que ele se tornou meu Filho
E também Pai que isso nunca deixei de lhe chamar.

Licínia Quitério

3 comentários:

Manuel Veiga disse...

qual o pai que não se deseja filho?

o mistério desse K ilumina o poema.

beijo

Justine disse...

Que belo, Licínia! E tanta coisa me fizeste recordar, hoje...

Atena disse...

Foi através de uma amiga que a conheci. Neste espaço de "bisbilhotice" que é o FaceBook cheguei até aqui ao seu blog.
O seu poema dedicado ao Pai é comovente. Em poucos versos fotografa um pouco da sua relação com o Homem da casa.
Sensibilizou-me o verso" até ao dia em que se tornou meu filho".
Pai é sempre o nosso Pai até nós partirmos.
Um abraço.

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