19.1.14

CINEMA


Passeio em ti como num corpo nu.
Percorro-te, abraço-te, comovo-me.
Cidade foste do tempo da ternura
a deslizar dos braços para a rua.
Na sala do cinema havia pombos
e grãos de lua nas nossa mãos
ausentes do tormento, da geada.
Corria o filme e nós com ele, brancos,
despojados, aninhados na hora
que era a nossa e se cumpria.
Estava escuro lá fora, a casa envelhecia.
Lá dentro a história ardente acontecia.
Passavam rebuçados da minha boca
à tua, em calda de desejo e de doçura.
Por lá ficámos, do futuro esquecidos,
arrumados em latas de memória.
Percorro-te, descubro-te, invento-te,

tropeço na calçada, sujo-me na caliça,
regresso à sala como se fosse a mesma,
como se fosse eu que ali estivesse
e a história inacabada terminasse,
desfeito o rebuçado, desenrolada a fita.
Disseste corta! ou fui eu que adormeci?

Licínia Quitério

4 comentários:

Mar Arável disse...

Foi quando acordámos

estimada Licínia

Licínia Quitério disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel Veiga disse...

nada é perfeito - nem os pombos nas mãos...

beijo

Graça Pires disse...

Memórias que o futuro resgatou.
Tão belo, Licínia.
Um beijo.

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