2.6.12

OS SÍTIOS

Terra e mar são sítios que dizemos.
Outros há sem nome e sem morada - desertos
de onde as ervas fugiram, onde caiu a solidão
dos pássaros, o sal explodiu e o gelo não deu flor.
Há os meus próprios sítios. Ficam na distância
entre o perto e o longe, entre a corda e a amurada,
a inquietação e o sono. A casa, a rua, o largo.
Nomeio-os e sou eles, estou dentro deles.
Sou maior do que eles quando é verão e transpiro
e um lago verde me acrescenta os olhos.
Sou o frio das pedras nos dias da ruína, quando
todos os sítios empalidecem e desabam.
No sítio das mulheres estremeço e teço e parto,
com o cheiro do leite e do sangue nas costuras
da saia. Minha é a cidade onde sonho quando
os sítios escorrem de memória em memória e eu
não sei o número, a chave, a senha para os deter.
Há um sítio que dizemos céu, como dizemos
alto ou azul, em vez de nunca, em vez de morte.
É no sítio dos vivos que pensamos e, por ventura
ou condição, em desespero, amamos.

Licínia Quitério

5 comentários:

hfm disse...

Dos sítios labirínticos onde nos situamos. Belíssimo poema!

Justine disse...

Os sítios, sempre dentro de nós!
Tão belo, amiga poetisa:_))))
Beijo

Manuel Veiga disse...

sitios que falam, como pedras vivas...

belíssimo, minha Amiga.

beijo

OUTONO disse...

...gostei destes "sítios"...

M. disse...

Muito belo, Licínia.

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