22.9.11

HÃO-DE TOMBAR OS FRUTOS



Hão-de tombar os frutos e a madureza
há-de manchar a folha branca e alastrar
em delta de doçura no início das palavras,  
na polpa das palavras antes presas
na aflição das mães, na escuridão do inverno,
no sangue negro das feridas, na solidão
das viúvas de homens por haver, no pavor
noturno dos precipícios, no choro velado
das mulheres veladas, na pacificação
do ópio, nas fúrias naturais, na explosão
das bombas no coração dos homens.
Ó senhores do desprezo, abri vossas janelas
que a palavra nascida e a doçura dos frutos
serão a vossa terra e o vosso céu,
e a flor do lótus, e o jarro de cristal,
a linfa, o bosque e a ninfa, o tabernáculo,
o miserável servo dos palácios,
a decepção do ourives sem o ouro,
a grandeza do Amor, do Amor, do Amor.
Assim acontece porque um fruto cai.
Podes dizer maçã.

Licínia Quitério

7 comentários:

mel de carvalho disse...

e que, como dizia Eugénio, a fruta tombe, doce a madura, na boca de quem a mereça.


dulcíssima a sua palavra, minha amiga
beijo
Mel


PS: "Maça" ... um conto BELÍSSIMO de Rosa Lobato Faria

hfm disse...

Que bom voltar a reler-te e que belo poema!

Manuel Veiga disse...

saltemos os muros. e abanemos as árvores. para que o frutos tombem e semente germine...

belíssimo, amiga.

beijos

Graça Pires disse...

"Podes dizer maçã" e acreditar que, neste país de medos, as árvores se encherão de frutos...
Um beijo, Licínia.

Justine disse...

Encantaste-me com este magnífico hino de força e certezas!
Abraço

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Belo o teu poema que anuncia regresso!

Um abraço
JRMARTO

Mar Arável disse...

Que caiam

mas na boca das sementes

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