20.4.06

DO AMOR


QUEM ERAS?

Estiveste sempre lá, no outro lado,
no avesso do leito,
embora ali.
Mais doce que o segredo
era o teu corpo a espraiar-se no meu,
a soçobrar.
Eras um sobressalto,
por detrás da rocha do teu dorso,
em arco tenso a despedir a flecha.
Quem eras, para além
da doçura do olhar,
da fervura do beijo?
O desejo de alguém que
ouvi chorar
baixinho, noite fora.
Ou talvez fosse o vento
a sussurrar teu nome verdadeiro.
Eras o belo passageiro
clandestino, à procura de abrigo
na pele do meu lençol.
Eras (quem sabe?) o tormento do mar
a querer prender a onda
e guardá-la na areia,
para a poder visitar
e amar na lua-cheia.

Não sei quem eras.
E depois?
Sei bem que foste, Amor,
igual a nós os dois.


Licínia Quitério, "Da Memória dos Sentidos"

A partir de hoje, serei um nome e um apelido e não apenas duas letras e dois pontos. Sentir-me-ei mais confortável, assim por extenso, nesta casa que vou construindo com as palavras que os dias me derem e que partilharei convosco.

Licínia Quitério

4 comentários:

Era uma vez um Girassol disse...

Olá Licínia, prazer em conhecer-te!
Forte, poderoso, envolto em saudade este poema de amor...
És poetisa, sem dúvida!
Bjinhos

Maria Carvalho disse...

Belíssimo poema!! Bom fim de semana. Beijos.

RB disse...

Bonito, como sempre...

tia, sei que andas entretida com o teu cantinho novo, mas não te esqueças de visitar o meu, que já tenho saudades dos teus miminhos!
Rodrigo

Teresa David disse...

É bom quando se pode ler boa poesia. E a tua é! Desculpa tratar-te por tu, mas acho que a Poesia também serve para unir as pessoas, de uma forma generosa e próxima. Ainda bem que tens o teu nome, as iniciais provocam uma ambiguidade, um incógnito, que me incomoda. Eu, para o melhor e para o pior, sempre tenho usado o meu nome verdadeiro, e felizmente, até ver isso não me trouxe problemas.
Um abraço
Teresa David

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